«Então, fechei os olhos com força e fixei-me no que via. Esta era uma
das coisas que fazia desde pequeno, que tinha descoberto por acaso e que
imaginava ser eu a única pessoa a fazer no mundo. Fechava os olhos e
via. Via o que se vê com os olhos fechados (...) Isto é o que se vê
quando fechados os olhos e continuamos a ver: a cor negra e os pequenos
seres de luz que a habitam. E não se consegue olhar fixamente nem para o
negro nem para a luz. Os pontos ou as linhas ou as figuras de luz fogem
da atenção. O negro é tão absoluto, tão profundo, tão infinito que o
olhar avança por ele sem encontrar um lugar onde possa deter-se. Mas,
naquela noite, comecei a distinguir algo dentro desse negro.»
José Luís Peixoto in Uma Casa na Escuridão
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