Oficina do Livro - O Anjo Que Queria Pecar (Opinião)

Francisco Salgueiro



















O «Mistério da Boca do Inferno» assombrou gerações durante décadas. O inexplicável desaparecimento do célebre mestre do oculto e da magia negra Aleister Crowley, com a conivência do escritor Fernando Pessoa, colocou Portugal e a Europa em sobressalto nos anos 30. 
Mas, factos só agora revelados demonstram que a conspiração se prolongou muito para lá do seu tempo, chegando aos dias de hoje e envolvendo uma perversa teia de sexo e manipulação orquestrada por uma criatura demoníaca, da qual foi vítima o Anjo que Queria Pecar.

Opinião 
Um livro surpreendente,uma história que retrata um mistério que vai perseguir gerações.
Tudo começa com a vinda a Portugal do "homem mais malévolo do mundo" - Aleister Crowley - para se encontrar com Fernando Pessoa, cuja poesia era ainda pouco reconhecida. Os encontros, que teriam como tema os assuntos mediúnicos, terminam quando Crowley desaparece misteriosamente num local designado como "A Boca do Inferno" deixando uma intrigante carta. O "Mistério da Boca do Inferno" teve grande destaque na imprensa nacional e europeia. A visita do mago parecia, também, ter afectado profundamente o poeta português.
Esta parte parece-me ser baseada em factos reais. Aleister Crowley existiu de facto, assim como a sua viagem a Portugal. O próprio livro atesta os seus encontros com Fernando Pessoa ao incluir fotos dos mesmos.
Tendo como ingrediente base um mistério nunca resolvido, o autor juntou ingredientes como romance, intriga e suspense e criou um livro que nos arrasta e surpreende a cada página.
Com um enredo bastante original, somos constantemente surpreendidos com novas informações. O passado e o presente fundem-se de forma bastante inteligente.
Ao contrário do que poderia acontecer, a utilização de diferentes narradores não me confundiu. Antes pelo contrário, pois permite-nos assistir da primeira fila a todos os acontecimentos.
É-nos apresentado um Fernando Pessoa profundamente inseguro, infeliz e até imaturo. A sua doença (a esquizofrenia) deu-nos a brilhante poesia, sua e dos heterónimos. Mas poucas são as vezes em que pensamos como seria viver com vários "Eus" aprisionados num mesmo corpo. As consequências na sua vida diária e amorosa parecem terríveis.
Nem sempre se gosta do fim dos livros. O fim deste surpreendeu-me bastante e pela positiva. Termina como começa, em suspense. É impossível não pensar: "Será mesmo real?!". 

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